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hoje assisti a um mini documentário intitulado “praça da sé (1976)” no canal da finada empresa paulista de planejamento metropolitano. o vídeo nos oferece uma amostra da atmosfera do local naquele período histórico, com uma série de relatos de trabalhadores e frequentadores da região. a seção de comentários é fantástica, com centenas de pessoas contando seus relatos e suas histórias com o local.
assista aqui (10 min de duração)
me parece que o documentário foi produzido com o intuito de capturar o instante anterior à construção da estação sé do metrô, que inevitavelmente transformaria significativamente o espaço. inclusive, já estava transformando no momento da gravação, como relata uma garota de programa: “antes eu trabalhava fazendo meu ponto ali na esquina, mas depois que derrubaram o prédio santa helena, começou muita ventania, começou essa construção, então precisei passar para aqui”. o palacete santa helena foi um dos edifícios demolidos para a construção do metrô.
quando pequeno, também passei muitas vezes nesse local acompanhado de minha mãe. nós pegávamos uma linha de ônibus que passava em um dos cruzamentos da praça da sé, depois andávamos pelo centro a pé e de trólebus, em lojas da 25 de março e do brás. me lembro que o centro de são paulo ia ficando mais hostil com o passar dos anos, com cada vez mais pessoas em situação de rua e sujeira nas ruas. contudo, imagino que eu ainda tenha conseguido ver um pouco dessa praça culturalmente viva que o vídeo mostra: os artistas de rua, o comércio ambulante e a multiplicidade de rostos, origens e ideias.
mostrei esse vídeo para minha mãe e a primeira memória que veio a ela foi quando pegava aqueles mesmos ônibus em 1978, com 17 anos de idade. depois, ela me contou sobre como eram alguns pontos do capão redondo da época e como foram se transformando ao longo do tempo. ela se recordou da história de um menino chamado wagner, que eu conheci já adulto, dono de uma mercearia na esquina de minha primeira casa. wagner viu o pai ser assassinado ainda criança e cresceu apenas com a mãe. a família expandiu a casa onde moravam, fazendo um sobrado e iniciando um comércio no térreo. tive lembranças muito boas ali no wagner, já que era a loja onde sempre compravam kinder ovo para mim. com a expansão do bairro e a construção de inúmeros supermercados de rede, a mercearia do wagner acabou falindo, dando espaço a vários comércios menores.
o vídeo termina de uma maneira muito impactante: a música é interrompida pelo forte badalar dos sinos da catedral da sé, então vemos um homem de braços abertos (como cristo crucificado) na frente da igreja dizendo “pra mim, era melhor que eu já tivesse morrido”. por fim, vemos uma montagem de imagens da igreja, do homem e da implosão do edifício mendes-caldeira, símbolo do crescimento econômico da cidade, dando lugar ao novo empreendimento do metrô de são paulo.
daqui a alguns anos, provavelmente voltarei ao capão redondo que conhecia e devo constatar que muita coisa foi transformada, principalmente com a construção da nova estação comendador sant’anna da linha lilás, a poucos metros de onde cresci. quando visitar o centro posso me surpreender também, já que existem planos de uma revitalização da região com um vlt, até então chamado de bondesp.